A objetividade da língua inglesa
Muita gente costuma estranhar a economia de palavras que o inglês faz em relação ao português. É comum que o aluno brasileiro construa suas frases sempre com mais informações, mais explicações e mais palavras do que realmente seriam necessárias para expressar uma mesma ideia em inglês. A raiz dessa diferença na construção de frases e forma de expressão está na cultura, na forma de pensar de cada povo e, consequentemente, de cada língua, afinal, línguas são produtos sobretudo culturais. E esse é um dos motivos do aluno ouvir de vez em quando que precisa “pensar em inglês”.
O português é, com frequência, uma língua que se estende desnecessariamente em muitos aspectos, mas não nos damos conta disso por ser a nossa língua materna, já tão natural e enraizada em nós. Vamos pensar numa frase como exemplo:
“A conclusão final a que podemos chegar sobre esse assunto é que precisamos encarar de frente a necessidade de criar novos empregos.”
Você observa algo na frase que não precisaria ter sido dito?
Vamos ver como normalmente diríamos a mesma coisa em inglês:
“We conclude that we need new jobs.”
Na versão em português, além do maior número de palavras, várias delas são, na verdade, desnecessárias na frase:
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“conclusão final” = toda conclusão já é final, portanto não há necessidade da palavra “final”
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“a que podemos chegar” = só se dá uma conclusão caso tenha sido possível chegar a ela
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“sobre esse assunto” = certamente, o assunto já era claro no contexto da conversa
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“encarar de frente” = encarar já significa que seja de frente, portanto não há necessidade de dizer “de frente”
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“criar novos” = tudo o que se cria é novo, portanto não é preciso dizer “novos”
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“precisamos encarar a necessidade” = se algo é preciso, é, portanto, uma necessidade, ou seja, seria possível dizer “precisamos fazer tal coisa” em vez de “precisamos encarar a necessidade de fazer tal coisa”
Os falantes nativos do inglês desenvolvem, desde muito cedo, um estilo de pensamento crítico e funcional (as próprias escolas estimulam isso na criança), e isso é refletido no idioma, que analisa sempre o que é importante dizer ou não para que se transmita eficazmente uma informação. A economia de palavras reflete a objetividade característica do idioma, bem como seu estilo prático e estratégico quando, por exemplo, uma mesma palavra tem funções e significados variados.
Certa vez, num site de viagens, um turista americano, de New York, fez um relato que mostrou claramente o quanto o brasileiro se estende em algo que poderia ter sido muito mais sucinto: ele contou que, durante sua viagem pelo nosso país, diversas vezes ouviu uma resposta similar quando perguntava onde ficava alguma rua; o brasileiro, muito solícito, mas pouco prático, respondia algo como: “Olha, esse nome não me é estranho, mas não tenho certeza, porque não sou daqui, então se você for ali naquele bar perguntar, talvez eles saibam te dizer onde fica essa rua.”
Ele achava curioso o tempo que levava para o brasileiro responder a uma simples pergunta que, no final, acabava nem sendo respondida de fato: “Can you tell me where this street is, please?” (Você pode me dizer onde fica essa rua, por favor?), que um nativo nova-iorquino responderia com um simples: “I can’t, sorry.” (Não, desculpe.).
Enquanto um brasileiro talvez possa achar a resposta nova-iorquina um tanto seca e até mesmo rude, o nova-iorquino, por sua vez, costuma ver tal resposta objetiva como um respeito por não terem lhe tomado desnecessariamente o tempo, algo muito valorizado na cultura americana.
Sabendo um pouco de português, esse turista não entendia por qual motivo era preciso dizer coisas que não ajudariam a responder a pergunta que havia sido feita, como, por exemplo, “esse nome não me é estranho”, “não tenho certeza (se não vai sequer arriscar dar uma localização)”, “não sou daqui” ou “talvez eles saibam te dizer (que, afinal, é o que se espera, uma vez que se pretenda entrar no bar para perguntar).
Assim, surge a reflexão: o que o aluno brasileiro pode fazer durante o aprendizado da língua inglesa para minimizar esse contraste e otimizar a aquisição do novo idioma? A resposta é: ampliar sua capacidade de análise crítica e interpretação de texto, observar com atenção os exemplos das frases em inglês, reproduzi-las e aprender com elas, em vez de questioná-las e tentar moldá-las dentro da língua portuguesa. O desenvolvimento de algumas dessas habilidades pode, inclusive, melhorar o uso da nossa própria língua.
Aprender um idioma requer habilidades similares às do ator que estuda a personalidade de alguém quando precisa representá-la num filme: ele observa, imita, tenta ver o mundo sob a perspectiva daquela pessoa e escolhe seus movimentos a partir do que seria de se esperar estando na pele do outro, e não na dele próprio. A diferença é que, no caso do idioma, no final, acabamos por mesclar as duas identidades linguísticas, pintando nosso quadro a partir da paleta de cores oferecida pelo idioma estudado.
See you soon!
Oldcastle School of English
Unidades em Barueri e Osasco – SP